sexta-feira, 23 de junho de 2017

Badajoz, ontem: e tudo os Pilares levaram...

A corrida de ontem em Badajoz, primeira da Feira de San Juan, iniciou-se com um
respeitoso minuto de silêncio à memória de Iván Fandiño, a que se seguiu uma
calorosa ovação do público, sentida e espontânea, em homenagem ao toureiro
que na semana passada morreu em França, vítima de cornada fatal
Suprema maestria de Enrique Ponce em dois toiros que permitiram muito pouco,
mas onde sobrou arte e bonitos detalhes de quem sabe
Poderio e arte de Manzanares valeram nas duas faenas do famoso toureiro, a
quem faltou matéria prima para uma tarde de glória
Valente, atrevido e ousado, Roca Rey sacou ontem a única orelha de uma sonsa
tarde em Badajoz, no último toiro da corrida e depois de sofrer uma aparatosa
e impressionante voltareta que lhe provocou uma cornada interna e o levou no
fim do espectáculo ao hospital


Miguel Alvarenga - Pouco público (meia casa, para ser simpático) ontem na Monumental de Badajoz (13 mil lugares, muito cimento à vista nos sectores de sol) na primeira corrida da Feira de San Juan (sem calor excessivo, aguentava-se bem e a corrida só teve início às nossas sete horas da tarde, oito em Espanha), um ciclo em que se comemoram os 50 anos da inauguração da praça e onde os dois principais cartéis (o de ontem e o de hoje) deveriam, defendem os aficionados, ter tido lugar no fim-de-semana e não em dias de trabalho, podendo dessa feita atrair muito mais público. Feira contestada, também, pela ausência da tradicional corrida de rejoneadores e mais ainda pelas ausências dos matadores locais Miguel Ángel Perera e António Ferrera, sobretudo este, que se impunha estar na sua praça, a que preço fosse, depois de ter sido o triunfador maior da última Feira de Sevilha.
Enfim, factos que podem ter tido - e tiveram certamente - influência para afastar aficionados das bancadas de Badajoz, onde ontem, aliás, a maior presença era de portugueses.
A corrida quase não teve história e decorreu em ritmo sonso e maçador pela falta de qualidade, de raça, de transmissão e de força dos toiros da ganadaria El Pilar. Muito embora o empenhado esforço e o elevado profissionalismo dos três matadores - Enrique Ponce, José Maria Manzanares e Roca Rey - os Pilares deixaram muito a desejar. Deixaram-se lidar os dois primeiros, foram mansos e perigosos os restantes quatro.
A suprema maestria de Enrique Ponce - um Senhor que trata os toiros por tu -, que conseguiu entender e sacar todo o partido ao primeiro toiro da tarde, permitiu momentos de muita tarde, mas nenhuma orelha por ter pinchado duas vezes. Apenas uma calorosa ovação nos médios. No quarto da tarde, Ponce não teve opções diante de um toiro sem qualidade. Empenhou-se, esforçou-se e voltou a ser ovacionado.
O poderio e a arte de Manzanares foram também a salvação nas duas intervenções do matador que dia 13 de Julho vamos ver em Lisboa num "mano-a-mano" com Pablo Hermoso de Mendoza. O famoso toureiro andou igualmente esforçado e empenhado, conseguindo momentos de bom toureiro no primeiro toiro e também no segundo, de menor qualidade. Foi ovacionado nos dois, que tardaram a cair e por isso o impediram de pelo menos cortar uma orelha, que no primeiro tinha sido merecida.
A ousadia e o valente atrevimento do jovem peruano Andrés Roca Rey salvaram a tarde já nos últimos instantes da corrida e quando, após sofrer uma aparatosa colhida, voltou à luta em mangas de camisa e galvanizou o público com bonitas "manoletinas" mirando el tendido (foto de cima), dando depois uma certeira estocada que lhe valeu a única orelha de uma tarde sonsa e com muito pouco para contar. No seu primeiro toiro também não teve opções, quis muito, mas não havia matéria prima. Foi aplaudido.
Ao fim e ao cabo, a maior ovação da corrida foi para a memória de Iván Fandiño, explosão de aplausos sentida e espontânea de um público que rendeu tributo ao malogrado toureiro mal terminou o respeitoso minuto de silêncio com que se iniciou ontem o espectáculo em Badajoz.

Fotos Maria Mil-Homens